O renomado professor pesquisador Pedro Demo costuma escrever nos textos que publica que o aluno que perde aula não perde nada. O que ele realmente quer dizer com essa afirmação? Devido à baixa qualidade do ensino público brasileiro, estaria o estimado professor desqualificando a instituição escola e propondo uma desescolarização da sociedade brasileira?
A aula que o professor Pedro Demo critica é aquela que está fundamentada apenas na transmissão da informação. Ele propõe uma educação através da pesquisa, na qual a investigação, mediada pelo professor pesquisador, seja a base do processo de construção e reconstrução do conhecimento pelo educando.
Será que o ensino público brasileiro apresenta a estrutura necessária para possibilitar uma educação através da pesquisa? Será que os cursos de formação de professores formam esses profissionais com as competências e habilidades necessárias para o exercício de uma prática docente através da pesquisa? Será que os estudantes da escola pública estão dispostos a enfrentar os desafios de uma educação através da pesquisa? Quais são as mudanças que precisam ser implantadas para a promoção de uma educação através da pesquisa?
Uma vez, durante uma aula de física, eu li no caderno de um aluno a seguinte frase: “não sou eu que mato a aula, é ela que me mata”. Percebo uma estreita relação entre essa frase e o pensamento do professor Pedro Demo. Mas supondo que eu não seja um bom professor, e que minhas aulas sejam sempre chatas, e que minha metodologia seja sempre inadequada, e que nada do que eu digo seja relevante. Tudo isso justificaria uma atitude constante de indiferença do aluno a minha aula? Qual é mesmo a responsabilidade do aluno diante da construção do seu próprio conhecimento?
A aprendizagem é uma das características da vida. Aprender é viver. Todo ser vivo aprende. A aprendizagem implica em desenvolvimento. Portanto, se o estudante não aprende, ele não consegue desenvolver todas as suas potencialidades e, de certo modo, restringe sua própria existência.
É evidente que o professor Pedro Demo está correto. Se o aluno falta aula que não promove aprendizagem, então ele realmente não perde nada. Aliás, ele ganha! Ganha tempo que pode ser usado para o desenvolvimento de suas potencialidades em outros ambientes, tempo que pode ser usado para viver a vida mais intensamente.
Entretanto, quando o aluno perde aula mesmo estando presente fisicamente na sala de aula, ele perde muito. Ele perde o seu precioso tempo. Ele perde a possibilidade de aprender devido a sua indiferença, sua apatia, sua morbidez e, consequentemente, limita o desenvolvimento de suas potencialidades, perdendo um pouco sua vida a cada aula perdida.
Os números são estarrecedores e levam à inquestionável conclusão de que, há gerações,
ResponderExcluirestamos afastando da sociedade dezenas de milhões de crianças e jovens brasileiros. A
educação de baixa qualidade é tida como a principal causa do alto grau de violência, baixo
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e já reflete na estrutural falta de profissionais
qualificados necessários para podermos trilhar o caminho do desenvolvimento sustentável de
longo prazo.
Parabéns Flávio, por abordar um assunto de ampla relevância a nossa comunidade, parabéns ao Itagi em foco por abrir esse espaço “colunistas” Itagi só tem a ganhar!
Flávio,
ResponderExcluirGostei do texto, parabéns.
Tive um professor de física chamado Arnaldo na 7ª e 8ª série, não me lembro hoje mais os conceitos de dinâmica, cinética ou óptica, apesar das notas terem sido boas. As notas da sala como um todo eram péssimas, era fato que uma das saídas era pedir à Diretoria a retirada do professor. Lembro-me de uma semana em que ele entrou na sala e disse: - Esta semana vamos aprender matemática. Nem preciso dizer que foi Matemática que aprendemos naquela semana. Não mudou muita coisa no ensino de física, mas o fato dos meus colegas verem aquele professor que era chato, mais chato mesmo, tentar resolver o problema de outro jeito, fez com que todos se esforçassem um pouco mais. Esta dúvida inquietante sua me alegra mais ainda e a busca das respostas nos indicam que estamos no caminho certo. E insisto:
ResponderExcluir"Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele."Provérbios 22:6
Brilhante reflexão! Precisamos sempre discutir a EDUCAÇÃO.
ResponderExcluirEm pleno século 21, oferecemos um dos piores sistemas de ensino do mundo às crianças:
ResponderExcluir• Apenas 11% dos alunos do 3º ano do Ensino Médio sabem o conteúdo esperado de
Matemática, e 28,9%, o de Língua Portuguesa (Todos pela Educação/SAEB/09).
• Pontuamos, dentre os 65 países que participaram do PISA 2009, entre os piores
países do mundo quando se trata de educação básica: 57º em Matemática, 53º em
Leitura e 53º em Ciências. (PISA − Programa Internacional de Avaliação de
Estudantes - 2009).
• 49,8% dos jovens brasileiros de 19 anos não conseguiram concluir o Ensino Médio
(Todos Pela Educação/PNAD/IBGE 09). Dos que conseguem concluir, cerca de 10%
apresentam um desempenho considerado adequado ao término da sua série.
• 36,6% dos jovens de 16 anos não terminaram o ensino fundamental (até o 9º ano).
(PNAD-2009).
• Apenas 14,4% dos nossos jovens de 18 a 24 anos frequentam o ensino superior
(PNAD-2009).
• 74% da população brasileira não conseguem entender um texto simples (INAF,
Indicador de Analfabetismo Funcional - Instituto Paulo Montenegro)